quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

IDOSOS E ANIMAIS DOMÉSTICOS, UMA PARCERIA PERFEITA




Por Marici Capitelli

É uma relação de afeto e companheirismo em qualquer hora. É por isso que animais e idosos têm tudo para se dar bem. Os estudiosos vão mais longe e dizem que os bichos são imprescindíveis para uma melhor qualidade de vida nessa faixa etária. "Quando o idoso tem um animal para tomar conta, ele se torna mais produtivo e cuida melhor de si próprio, alimentando-se melhor e mantendo a limpeza porque tem uma vida sob a sua responsabilidade", explica Jerson Dotti, de 45 anos. Ele é idealizador do Projeto Cão Idoso, da Organização Brasileira de Interação Homem-Animal Cão Coração (Obihacc), que existe há seis anos.

De acordo com ele, os bichos, sejam eles de qualquer espécie, fazem com que os idosos se sintam mais responsáveis, úteis, reconhecidos socialmente e, acima de tudo, amados.
Os animais também facilitam os relacionamentos sociais. "Quando um idoso sai para passear com o cachorro, fica mais fácil começar um assunto com outras pessoas. No início, o tema gira em torno do cão, mas depois vai para outros interesses", ressalta Jerson. Além da conversa, sair com o animal possibilita uma atividade física prazerosa.

Como os bichos adoram carinho e não economizam nos sentimentos, eles acabam estimulando o toque físico com o dono. "O contato é importante no sentido de dar e receber afeto e preenchem um espaço que os idosos, normalmente, não têm com outras pessoas, já que na cultura ocidental são excluídos."

Outro aspecto positivo ressaltado pelo idealizador do Projeto Cão Idoso é que os animais trazem os mais velhos para a realidade. "Com um bicho para cuidar, o idoso se preocupa com o presente e não ficar preso às lembranças do passado."

Os animais fazem tão bem à saúde física e emocional dos idosos, que o projeto - além das visitas em asilos - utiliza 20 cachorros em fisioterapia com os velhinhos de duas instituições. "Os resultados são fantásticos. Os idosos ficam estimulados a realizar os exercícios que precisam."

Entre visitas e fisioterapia são beneficiados 310 pessoas de idade avançada em quatro instituições. Quando os 54 cães chegam, é aquela festa nos asilos. "Muitos dizem que não sabiam que era tão bom ter um animal tão perto."

A experiência diária na clínica e no pet shop fez com que a veterinária Ivana Carvalho, de 44 anos, também descobrisse a importância dos animais para os mais velhos: "Os animais suprem necessidades física e emocional."

Mas nem tudo é tão simples. Os idosos costumam ser mais resistentes quando se trata de bichos. "Muitos deles ainda tem a idéia do cachorro que só ficava no quintal e não dentro de casa." Em sua avaliação, cabe aos profissionais da área animal ir mostrando a esse público que atualmente existem facilidades para manter um animal, como banho, tosa, serviços de táxi dog e ração. "Muitos velhinhos ainda insistem em dar comida para os animais quando, na verdade, a ração é muito mais prática para o proprietário e saudável para o animal".

Com relação ao animal ideal para o idoso criar, Ivana garante que tanto faz gato ou cachorro. A preferência pode ser por raças mais calmas. A única recomendação é que o filhote tenha mais de 2 meses. "É que até essa idade eles são como bebês e os idosos podem não ter muita paciência para cuidar deles."

Com os animais, a solidão não encontra espaço

Sete cachorros, três tartarugas, um papagaio e nenhuma solidão. A bióloga aposentada Lia de Abreu Sacchetta, de 68 anos, mora sozinha com os animais há três anos, quando a última filha deixou a casa. Seus três filhos deixaram de morar com ela em um prazo de três anos. "Não sinto solidão por causa dos bichos. Depois de um dia que passo fora resolvendo problemas, quando chego em casa e escuto os cães , tudo fica lá fora. A minha residência vira um oásis."

De acordo com Lia, os cachorros estão sempre bem-humorados, alegres, pedindo e fazendo carinho. "Tocá-los é importantíssimo para o meu bem-estar."

Ralf, um pastor belga, teve um problema de saúde e precisava de exercícios. Lia não teve dúvidas. Fazia atividade física diária com o seu companheiro. "No fim, também acabei me exercitando." Ralf e os outros animais retribuem a dedicação com muito carinho e felicidade. "Eles nos devolvem com juros."

Em sua avaliação, os bichos facilitam a interação social. Ela dá um exemplo contando que um frentista do posto, ao ver um adesivo em prol dos animais no seu carro, perguntou se ela tinha cães. "Disse que sim e perguntei se ele também tinha. E por aí, a conversa seguiu. Nos parques é comum as pessoas começarem assunto por causa dos animais". Lia, que não se imagina sem eles, recomenda: são ótimas companhias.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

DONOS DE ANIMAIS TEM CORAÇÃO MAIS SAUDÁVEL



Segundo pesquisa japonesa, aqueles que convivem com um pet apresentam mais variabilidade do ritmo cardíaco, isto é, seus corações respondem melhor às exigências do corpo

Portadores de doenças crônicas que possuem mascotes parecem ter corações mais saudáveis do que aqueles que vivem sem um animal de estimação - seja de pelos, penas ou escamas, diz um novo estudo japonês.
Para estudiosos, os mascotes são uma forma de apoio social, e por isso reduzem o estresse
Na pesquisa publicada no American Journal of Cardiology, os cientistas que estudaram quase 200 pessoas descobriram que aqueles que tinham um pet contavam com mais variabilidade do ritmo cardíaco do que os que não tinham um animal.
Isso significa que seus corações respondem melhor às exigências das mudanças corporais, como bombear sangue mais rapidamente em situações de estresse. Uma variabilidade reduzida está associada ao maior risco de morrer por problemas do coração.
"Entre os pacientes com doença coronária, os donos de mascotes mostram uma sobrevida um ano maior do que os que não têm bichos, diz o autor, Naoko Aiba, da Universidade de Kitasato, no Japão.
No estudo, a equipe avaliou 191 pessoas com diabetes, pressão arterial elevada ou colesterol alto durante 24 horas usando um monitor cardíaco durante todo o tempo. A faixa etária estava entre 60 e 80 anos.
Os pesquisadores também perguntaram sobre as atividades diárias e sobre se tinham ou não animais domésticos. Nos donos de pets, cerca de 5% das batidas do coração diferiam em 50 milésimos de segundo em extensão, contra 2,5% dos que não tinham animais. Isso significa que o ritmo cardíaco mudava menos.
Até agora, não se sabe o que causa a diferença. Pode ser em função dos animais, ou pode ser que haja diferenças entre os que escolhem ter pets e os que não querem bichos.
"Suponho que os mascotes são uma forma de apoio social, e por isso reduzem o estresse e podem satisfazer algumas necessidades de companhia", dizem os Judith Siegel, da Faculdade de Saúde Pública da UCLA, que não participou do estudo.
"Não creio que ninguém tenha uma boa referência sobre essas discrepâncias", acrescentou. Os autores ressalvam que eles seguiram os voluntários apenas por um dia e que outros fatores deveriam ser levados em conta, como diferenças potenciais entre os tipos de animais.
Erika Friedmann, da Escola de Enfermagem da Universidade de Maryland, considera que o estudo dá um passo em algo já conhecido - a conexão entre ter um mascote e saúde. "Estamos entrando na vida diária da pessoa, e isso é emocionante", disse ela, que não participou da pesquisa.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Dieta calórica pode dobrar o risco de problemas de memória em idosos


Comprometimento cognitivo leve: alimentação rica em calorias 
entre idosos pode aumentar risco do problema (Thinkstock)
Pesquisa concluiu que aqueles que consomem 2.100 a 6.000 calorias têm mais chances de sofrerem de comprometimento cognitivo leve


Segundo um novo estudo realizado por pesquisadores da Clínica Mayo, idosos que têm uma dieta calórica podem chegar a dobrar os riscos de sofrerem perda de memória ou comprometimento cognitivo leve. A pesquisa foi divulgada nesta segunda-feira pela Clínica Mayo e será apresentada no 64º Encontro Anual da Academia Americana de Neurologia, em abril deste ano.

COGNIÇÃO
Conjunto de processos mentais usados no pensamento, na percepção, na classificação, no reconhecimento, na memória, no juízo, na imaginação e na linguagem. O comprometimento cognitivo é uma das características mais importantes da demência, como na doença de Alzheimer

COMPROMETIMENTO COGNITIVO LEVE
É o período de transição entre quadro de envelhecimento normal e diagnóstico de demência, que é a diminuição da função mental e comprometimento da memória, do pensamento, da capacidade para aprender e do juízo.

Para chegarem a essa conclusão, os pesquisadores selecionaram 1.233 pessoas de 70 a 89 anos livres de qualquer demência. Os participantes relataram, em um questionário, o que comiam e bebiam em um dia e, depois, foram divididos em três grupos de acordo com o consumo calórico diário de cada um. Um dos grupos ingeria de 600 a 1.526 calorias ao dia; o outro, de 1.526 a 2.143; e o último grupo, entre 2.143 e 6.000.

Os autores do estudo observaram que a probabilidade de as pessoas que consumiam mais calorias terem comprometimento cognitivo leve mais que duplicou em relação àquelas que menos ingeriam calorias. No entanto, não foram encontradas relações significativas entre o grupo do meio e os outros dois.

“Observamos um padrão indicando que, quanto mais calorias ingeridas ao dia, maior a probabilidade de um idoso ter comprometimento cognitivo leve”, afirma o coordenador do estudo, Yonas Geda. “Cortar calorias e comer alimentos que compõem uma dieta saudável pode ser uma maneira fácil e mais simples de evitar problemas de perda de memória na medida em que envelhecemos”, diz o pesquisador.

Publicado na revista VEJA de 13/02/2012.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

MAUS TRATOS CONTRA IDOSOS




Aposto que muitos cuidadores e familiares estão se perguntando como alguém pode praticar atos que possam resultar em maus tratos para com os idosos! Infelizmente, maus tratos em idosos podem ser mais comuns do que se possa imaginar. E o que é mais dramático: os principais causadores dos maus tratos estão dentro de casa, das instituições asilares ou dos hospitais.
Maus tratos é todo ato, único ou repetitivo, ou até omissão velada, que pode acontecer com a pessoa idosa, onde ocorre dano ou incômodo. Atualmente, uma das formas mais comuns é o abuso financeiro ao idoso. Explico: é exploração imprópria e ilegal ou uso não consentido de seus recursos financeiros. È o uso ilegal e indevido, apropriação indébita da propriedade e dos bens financeiros, falsificação de documentos jurídicos, negação do direito de acesso e controle dos bens, administração indevida do cartão do segurado do INSS. Um fato muito comum é o empréstimo por consignação que é descontado do benefício do INSS. Muitos avôs e avós são obrigados a fazer empréstimos vultuosos, para seus netos e filhos, comprometendo bastante o orçamento familiar.
O abuso psicológico, a violência psicológica e a violência física são os retratos mais tristes e inaceitáveis de maus tratos na terceira idade. O mais aterrador é que o principal agressor é, na maioria das vezes, um familiar! Mandar calar a boca, gritar e ameaçar são alguns dos exemplos de violência psicológica. Já a violência física pode ser expressada tanto pela agressão propriamente dita, como pelo abuso sexual ou pela violência do marido, também idoso.
O descuido (do verbo descuidar: deixar de cuidar) e a negligência também são formas de maltratar os idosos. É a falta ou o esquecimento em providenciar os cuidados vitais ao idoso dependente, tais como a alimentação, os medicamentos, a higiene, a moradia e a proteção econômica devida. Também envolve situações em que não se permita que outras pessoas providenciem os cuidados devidos aos idosos dependentes.
Onde pode ocorrer os maus tratos?
• Na casa do próprio idoso
• Na casa do cuidador
• Na comunidade em que reside
• Nas instituições de longa permanência
• Nos hospitais
Muitas vezes pode acontecer por um gesto impensado, mas também há casos  de ações premeditadas de agredir sistematicamente o idoso. Algumas outras causas, dentro de casa, que podem gerar os maus tratos:
• Relação desgastada na família
• Cansaço excessivo do cuidador
• Incapacidade do cuidador de oferecer cuidado adequado
Nas instituições de longa permanência, os maus tratos ocorrem quando há uma administração deficiente, com capacitação inadequada do pessoal, supervisão de enfermagem deficiente e número insuficiente de pessoal . Para o nosso familiar e cuidador que está lendo estas dicas, oferecemos algumas dicas para ajudar a evitar que isto aconteça em sua casa:
• Em primeiro lugar, reconhecer que o idoso dependente também é cidadão e tem assegurados todos os seus direitos pelo Estatuto do Idoso.
• Entender que maus tratos existem!
• Aprender e buscar ajuda para melhorar o cuidado, dividindo-o com outras pessoas.
• Sempre refletir diariamente sobre seus atos ao cuidar do idoso dependente, procurando alguma falha que esteja ocorrendo, e que no futuro, possa evoluir para uma situação de maus tratos.
• Denunciar maus tratos, seja em casa ou na comunidade.
• Procurar as redes de apoio existentes em sua cidade ou estado, tipo conselhos municipais de idosos, ouvidoria do município, delegacia ou promotoria.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

SUIÇA CRIA CIDADE RETRÔ PARA TRATAR ALZHEIMER


Haute-Argovie de Wiedlisbach

Roberta Namour – correspondente do 247 em Paris – Em alguns meses, o famoso hospício suíço de Haute-Argovie de Wiedlisbach vai se transformar numa cidade inspirada nos anos 50. Baseado em um modelo holandês, uma empresa decidiu construir uma atmosfera retro para pacientes com Alzheimer que costumam ter falhas de memória recente, mas guardam lembranças mais claras do passado. A abordagem tem sido questionada por alguns especialistas.

Os críticos apelidaram o lugar de « Demênciacity ». Mas a Suíça não parece se importar com isso e mantém sua ideia focada em ajudar desta forma idosos que sofrem também de outras doenças neurodegenerativas.

O empresário suíço Markus Vögtlin investiu 20 milhões de euros na construção desse complexo, que será instalado na cidade de Wiedlisbach, perto de Berna. Hospedagem e cuidados médicos são previstos para receber 150 pacientes idosos que sofrem do problema, divididos em 23 edifícios com decoração dos anos 50.

Os idealizadores do projeto garantem que as portas da « cidade » não serão mantidas fechadas e os moradores poderão circular livremente. Para a diretora da Associação de Alzheimer da Suíça, Birgitta Martensson, esse é um dos pontos mais positivos dessa experiência. "Poder gerenciar suas próprias atividades diárias motiva e mantém as suas capacidades remanescentes. Isso resulta em menos frustração, menos estresse e menos trabalho para os cuidadores", explicou.

Para reforçar o clima de normalidade, os funcionários vão se vestir como jardineiros, cabeleireiros ou comerciantes. Única restrição: os habitantes de Wiedlisbach não serão autorizados a deixar a aldeia.

A abordagem foi inspirada num projeto inovador, mas controverso, no campo psicogeriátrico, da Holanda. Uma casa de repouso de Hogewey para pessoas com demência foi criada nos arredores de Amesterdã, em 2009. Os moradores pagam 5 mil euros por mês para viver em um mundo de ilusões.

Markus Vögtlin visitou Hogewey antes de lançar seu projeto. "As pessoas com Alzheimer podem se tornar agitadas e agressivas, mas em Hogewey, eles parecem relaxadas e felizes", relatou.

Assim como no resto da Europa, a Suíça pena a vencer a crescente população com doenças neurodegenerativas. No país, acredita-se que existam mais de 100 mil idosos com transtornos mentais e este número deve dobrar nos próximos vinte anos. A medida certamente ainda causará muita polêmica, mas ao menos é uma tentativa de proporcionar uma vida mais adequada a pessoas que já não se encaixam mais na sociedade atual.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Alzheimer: americanos descobrem como ele se espalha


 Experimentos revelam processo infeccioso entre neurônios e muda tratamento da doença

Pesquisadores de duas universidades americanas, Columbia e Harvard, conduziram experiências independentes e paralelas, chegando a uma descoberta surpreendente: o que desencadeia a propagação do mal de Alzheimer no cérebro é uma infecção que se espalha entre neurônios. Os dois experimentos foram feitos com cobaias de laboratório e, ao invés de vírus ou bactérias, os cientistas propagaram pelo cérebro uma proteína conhecida como Tau, que é uma proteína com estrutura distorcida.

A descoberta surpreendente responde a uma pergunta de longa data para as pesquisas médicas e tem implicações imediatas para os tratamentos que hoje estão em desenvolvimento. Os pesquisadores acreditam que outras doenças cerebrais degenerativas, como mal de Parkinson, podem se espalhar de uma forma similar.

Há muito tempo, pesquisadores de Alzheimer sabem que entre os primeiros sintomas do Alzheimer está o surgimento de células cheias da proteína Tau em uma pequena área do cérebro onde as memórias são esculpidas e armazenadas. A doença então se move lentamente para além desta pequena área, para regiões maiores do cérebro, que envolvem memória e raciocínio.

Mas, por mais de um quarto de século, os pesquisadores foram incapazes de decidir entre duas explicações sobre como esta mudança de área poderia ocorrer. Uma das hipóteses é a de que a propagação resulta de a doença ser transmitida de um neurônio para outro, talvez ao longo dos caminhos que as células nervosas usam para se comunicar umas com as outras. A outra hipótese é a de que algumas áreas do cérebro são mais resistentes do que outras e resistem à propagação da doença por mais tempo.

Os novos estudos podem dar uma resposta a este dilema. Eles indicam que é possível produzir uma interrupção da propagação do mal de Alzheimer no cérebro, impedindo a transmissão de uma célula a célula, talvez por meio de um anticorpo que bloqueia o complexo proteico Tau.

Os estudos, feitos de forma independente por pesquisadores das universidades de Columbia e Harvard, envolveu ratos geneticamente modificados, nos quais foram injetadas proteínas humanas do tipo Tau, predominantemente na região entorrinal do córtex cerebral, um pedaço de tecido que se localiza atrás das orelhas e onde as primeiras células começam a morrer quando a pessoa apresenta os primeiros sintomas da doença de Alzheimer. Como era esperado pelos cientistas, as células do córtex entorrinal dos ratos começaram a morrer.
Numa segunda fase, a morte celular e a destruição de neurônios espalharam-se para fora desta área, para outras células neuronais, ao longo da mesma rede. Uma vez que essas outras células não poderiam produzir a proteína humana Tau, a única explicação para o surgimento de proteínas distorcidas do tipo Tau seria a transmissão de uma célula nervosa para outra célula nervosa.

E isso, segundo o neurologista Samuel E. Gandy, diretor associado de pesquisa do Alzheimer Disease Center, em Mount Sinai, instituto de pesquisa pertencente à Escola de Medicina em Nova York, foi "muito inesperado, muito intrigante."

Embora os estudos ainda estejam em estágio muito inicial, com experimentos em camundongos, os pesquisadores dizem esperar que o mesmo fenômeno ocorra em seres humanos, porque os ratos tinham implantado em seu organismo um gene tau humano e a onda progressiva de morte celular também acontece em pessoas com doença de Alzheimer.
O estudo realizado pelos pesquisadores Karen Duff e Scott A. Small Jr, e seus colegas do Instituto Taub para a Pesquisa sobre Doença de Alzheimer e Envelhecimento do Cérebro, na Universidade de Columbia, foi publicado na quarta-feira na revista “PLoS One”. O outro, pelo Dr. Bradley T. Hyman, diretor de Pesquisa do Mal de Alzheimer Center em Massachusetts General Hospital, e seus colegas, vai publicada na revista “Neuron”. Ambos os grupos de pesquisadores foram inspirados pelas observações, ao longo dos anos, de que o Alzheimer começa no córtex entorrinal e depois se espalha.

Mas, disse o Dr. Small, "o que queremos dizer com 'espalha-se'?"

Pesquisadores sabem que algo desencadeia a doença de Alzheimer. O candidato mais provável era uma proteína conhecida como beta-amilóide, que se acumula no cérebro de pacientes com a doença, formando placas rígidas. Mas a proteína beta-amilóide é muito diferente do complexo proteico Tau. Ela é secretada e fica em aglomerados fora das células. Embora os pesquisadores tenham procurado, eles nunca viram evidências de que a beta-amilóide se espalhe de célula para célula em uma rede.

Ainda assim, a doença cria amilóides, o que equivale a um bairro ruim em regiões de memória do cérebro. Em seguida, vem a proteína Tau _ que alguns pesquisadores chamam de "carrasco" _ acumulando-se dentro das células e mata os neurônios. Como algumas células demoram mais que outras para sucumbir à má vizinhança, isso explicaria a propagação da doença no cérebro, e não haveria necessidade de culpar algo estranho, como a propagação da proteína Tau, de célula para célula.

Estudos em humanos, porém, não determinaram se essa hipótese estava correta. Autópsias e exames de imagem cerebral foram "indiretos e inconclusivos", segundo Small. Observar o cérebro de pessoas que morreram com a doença, de acordo com o Dr. Duff, é como olhar para um carro destruído e tentar descobrir o motivo do acidente. Freios com defeito? Barra de direção quebrada?

A questão de qual hipótese estava correta _ a da proteína Tau espalhando-se de célula para celular, ou a de uma região danificada no cérebro por causa de células nervosas com diferentes vulnerabilidades _ ficou sem resposta. O doutor Hyman tentou por 25 anos encontrar uma boa maneira de enfrentar o dilema. Uma de suas idéias era encontrar um paciente com uma lesão vascular cerebral, e outro que houvesse segmentado o córtex entorrinal do resto do cérebro em consequência da doença. Se o paciente tivesse desenvolvido a doença de Alzheimer no córtex entorrinal _ e mantido a doença contida nesta região _ ele teria provas de que a doença se espalha apenas como uma infecção. Mas nunca encontrou tais pacientes.

A solução veio quando os pesquisadores foram capazes de desenvolver camundongos geneticamente modificados que expressam a proteína Tau humana anormal, mas apenas em seus córtex entorrinal. Aqueles ratos haviam oferecido a maneira mais clara para conseguir uma resposta, de acordo com John Hardy, um pesquisador de Alzheimer da London College University, que não estava envolvido em um dos novos estudos.

Há uma outra vantagem, também, segundo o Dr. Hyman. Os ratos deram ao pesquisadores uma ferramenta para testar maneiras de bloquear a disseminação da Tau. Ele foi incisivo: "É uma das coisas sobre as quais estamos animados."

Se a Tau se espalha de neurônio para neurônio, diz o Dr. Hardy, pode ser necessário para bloquear a produção de beta-amilóide, o que parece levar a propagação do mal de Alzheimer a um impasse. Ele e outros cientistas também estão perguntando se outras doenças degenerativas espalham-se através do cérebro porque as proteínas passam de célula nervosa a célula nervosa.

O doutor Hardy acredita ter evidências de que o mesmo pode acontecer na doença de Parkinson. Dois pacientes de Parkinson tratados tiveram implantadas no cérebro células neuronais fetais para substituir neurônios mortos e moribundos. Quando os pacientes morreram, anos mais tarde, as autópsias mostraram que eles ainda tinham as células fetais, mas tinham bolas que continham uma proteína do mal de Parkinson, a sinucleína. A maneira mais óbvia de explicar o que ocorreu, segundo os pesquisadores, é verificar se a proteína tóxica se espalhou a partir de células doentes do paciente para as células saudáveis fetais. Mas eles não podem descartar a hipótese de má-vizinhança. Agora, segundo o doutor Hardy, a questão da disseminação do Alzheimer pode estar resolvida.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/saude/americanos-descobrem-como-mal-de-alzheimer-se-espalha-3860504#ixzz1lKG9vXF2 
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